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sábado, 28 de maio de 2011

Resposta de Marcos Bagno à polêmica sobre livro didático de Língua Portuguesa

POLÊMICA OU IGNORÂNCIA?

DISCUSSÃO SOBRE LIVRO DIDÁTICO SÓ REVELA IGNORÂNCIA DA GRANDE IMPRENSA

Marcos Bagno
Universidade de Brasília

Para surpresa de ninguém, a coisa se repetiu. A grande imprensa brasileira mais uma vez exibiu sua ampla e larga ignorância a respeito do que se faz hoje no mundo acadêmico e no universo da educação no campo do ensino de língua.

Jornalistas desinformados abrem um livro didático, leem metade de meia página e saem falando coisas que depõem sempre muito mais contra eles mesmos do que eles mesmos pensam (se é que pensam nisso, prepotentemente convencidos que são, quase todos, de que detêm o absoluto poder da informação).
Polêmica? Por que polêmica, meus senhores e minhas senhoras? Já faz mais de quinze anos que os livros didáticos de língua portuguesa disponíveis no
mercado e avaliados e aprovados pelo Ministério da Educação abordam o tema da variação linguística e do seu tratamento em sala de aula. Não é coisa de
petista, fiquem tranquilas senhoras comentaristas políticas da televisão brasileira e seus colegas explanadores do óbvio.

Já no governo FHC, sob a gestão do ministro Paulo Renato, os livros didáticos de português avaliados pelo MEC começavam a abordar os fenômenos da
variação linguística, o caráter inevitavelmente heterogêneo de qualquer língua viva falada no mundo, a mudança irreprimível que transformou, tem
transformado, transforma e transformará qualquer idioma usado por uma comunidade humana. Somente com uma abordagem assim as alunas e os
alunos provenientes das chamadas “classes populares” poderão se reconhecer no material didático e não se sentir alvo de zombaria e preconceito. E, é claro,
com a chegada ao magistério de docentes provenientes cada vez mais dessas mesmas “classes populares”, esses mesmos profissionais entenderão que seu
modo de falar, e o de seus aprendizes, não é feio, nem errado, nem tosco, é apenas uma língua diferente daquela – devidamente fossilizada e conservada
em formol – que a tradição normativa tenta preservar a ferro e fogo, principalmente nos últimos tempos, com a chegada aos novos meios de
comunicação de pseudoespecialistas que, amparados em tecnologias inovadoras, tentam vender um peixe gramatiqueiro para lá de podre.

Enquanto não se reconhecer a especificidade do português brasileiro dentro do conjunto de línguas derivadas do português quinhentista transplantados para as colônias, enquanto não se reconhecer que o português brasileiro é uma língua em si, com gramática própria, diferente da do português europeu, teremos de conviver com essas situações no mínimo patéticas.

A principal característica dos discursos marcadamente ideologizados (sejam eles da direita ou da esquerda) é a impossibilidade de ver as coisas em
perspectiva contínua, em redes complexas de elementos que se cruzam e entrecruzam, em ciclos constantes. Nesses discursos só existe o preto e o
branco, o masculino e o feminino, o mocinho e o bandido, o certo e o errado e por aí vai.

Darwin nunca disse em nenhum lugar de seus escritos que “o homem vem do macaco”. Ele disse, sim, que humanos e demais primatas deviam ter se
originado de um ancestral comum. Mas essa visão mais sofisticada não interessava ao fundamentalismo religioso que precisava de um lema distorcido
como “o homem vem do macaco” para empreender sua campanha obscurantista, que permanece em voga até hoje (inclusive no discurso da
candidata azul disfarçada de verde à presidência da República no ano passado). Da mesma forma, nenhum linguista sério, brasileiro ou estrangeiro, jamais disse ou escreveu que os estudantes usuários de variedades linguísticas mais
distantes das normas urbanas de prestígio deveriam permanecer ali, fechados em sua comunidade, em sua cultura e em sua língua. O que esses profissionais vêm tentando fazer as pessoas entenderem é que defender uma coisa não significa automaticamente combater a outra. Defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não cabe à escola introduzi-los ao mundo da cultura letrada e aos discursos que ela aciona. Cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem! Parece óbvio, mas é preciso repetir isso a todo momento.
Não é preciso ensinar nenhum brasileiro a dizer “isso é para mim tomar?”, porque essa regra gramatical (sim, caros leigos, é uma regra gramatical) já faz
parte da língua materna de 99% dos nossos compatriotas. O que é preciso ensinar é a forma “isso é para eu tomar?”, porque ela não faz parte da
gramática da maioria dos falantes de português brasileiro, mas por ainda servir de arame farpado entre os que falam “certo” e os que falam “errado”, é
dever da escola apresentar essa outra regra aos alunos, de modo que eles – se julgarem pertinente, adequado e necessário – possam vir a usá-la
TAMBÉM. O problema da ideologia purista é esse também. Seus defensores não conseguem admitir que tanto faz dizer assisti o filme quanto assiti ao filme,
que a palavra óculos pode ser usada tanto no singular (o óculos, como dizem 101% dos brasileiros) quanto no plural (os óculos, como dizem dois ou três
gatos pingados).

O mais divertido (para mim, pelo menos, talvez por um pouco de masoquismo) é ver os mesmos defensores da suposta “língua certa”, no exato momento em que a defendem, empregar regras linguísticas que a tradição normativa que eles acham que defendem rejeitaria imediatamente. Pois ontem, vendo o Jornal das Dez, da Globo News, ouvi da boca do sr. Carlos Monforte essa deliciosa pergunta: “Como é que fica então as concordâncias?”. Ora, sr. Monforte, eu lhe
devolvo a pergunta: “E as concordâncias, como é que ficam então?

segunda-feira, 28 de março de 2011

Uma linda poesia por um poeta legítimo, meu amigo Robson Silva!

CIDADE ALTANEIRA


Cidade altaneira

Em linhas retas precisas ser

Completas mais um ano que testemunha o relógio biológico do tempo

Não és nova nem velha

És inteira

Tua idade inventada pelos homens não corresponde à grandiosidade de tua magnífica geografia, que irradias

Cidade altaneira

Tua imagem está estampada no fervor das ruas, das calçadas nuas

Das praças públicas, dos becos estreitos em cada adereço e endereço

Nos canteiros desajeitados onde se esconde tua flora bela e doce

Nas crianças negras e brancas, pobres e ricas, tímidas e audaciosas

Nas mães que acalentam seus filhos e nos filhos que procuram suas mães

Cidade altaneira

Teus desejos dissecados

Deleitam-se em cada rosto dos teus filhos amados

Teus filhos amados sendo amados

Tu terás um rosto nobre almejado

Cidade altaneira

Teu progresso permanece vivo e pronunciado

Mas com passos lentos e cadenciados

Ainda não foram alcançados

Pedimos-te perdão pela mera presença

Sem engendrar um olhar profícuo

Que tantas vezes só profiglou tua imagem

Fazendo-te descer diante do espelho

Cidade altaneira

Teu voo quer ir longe

A timidez embaçada

Faz-te embocar num leito largo desconhecido

Onde as lágrimas se desconhecem, o riso se cala e a razão se confunde

Cidade altaneira

Tu tens afeto de mãe que acolhes todos os homens

E fazes deles filhos teus

Tua história penetra nas veias e na alma de cada ser que por ti passou

Cidade altaneira

Tua forma, teu corpo, relevos e chapadas

Misturados à multidão que transborda vitalidade

Multidão sem recuo no riso

Quer fazer de ti um pequeno paraíso preciso, com juízo e otimismo

Uma grande nau

Robson Silva

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A PRIMEIRA FALA DA PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF SOBRE A EDUCAÇÃO

O discurso de posse da presidente reuniu uma série de recados a vários setores do governo, apresentando seu estilo e, com clareza, suas características.

Quanto à educação, houve uma expressão curta e de grande significado, se considerarmos o contexto da educação brasileira: “professores, professoras, vocês são a autoridade em sala de aula”.

Importante expressão, porque considera o valor social do professor, que deve ter autoridade, não autoritarismo. Esta me pareceu a primeira parte do recado.

Um segundo (recado) pode ser entendido tendo como alvo todos os gestores da educação: “precisamos dar respaldo aos professores para que tenham essa autoridade, não podemos decidir reformas educacionais sem consultá-los”.

Um terceiro é diretamente voltado para todos os professores, aos que estão abandonando o magistério e aos que nele não desejam ingressar: “vocês, professores e professoras, para defenderem a necessária autoridade, precisam aproveitar a formação continuada que lhes é oferecida e, sem contornos e delongas, aprofundar os estudos de atualização”.

Ao lado de tantos recados que podem ser depreendidos de tão curta fala, creio que ainda podemos discorrer sobre o tema dado que houve um toque em lugar certo, vindo de quem recebeu clara orientação sobre o fundamento das crises da educação. Vivemos uma crise de autoridade. Essa, por sua vez, é gerada por uma série de fatores que podem pesar tanto para os governantes como para os governados.

Quando se toma uma medida para reinventar métodos e processos educacionais sem a menor participação dos educadores, desacredita-se a classe. A ela caberá o ônus das aplicações desses métodos, a falha recairá sobre a cabeça de quem é docente, porém, sua participação foi nula. Quando os gestores da educação lançam a culpa por todos os desmandos encontrados sobre a escola e seus mestres, cometem um grave erro por causa da generalização e pela desconsideração dos valores de quem se preparou para a sala de aula que requer, hoje, um novo professor para uma nova educação.

Reclamam, com razão, os gestores, quando fazem consultas aos mais gabaritados professores e recebem em troca compêndios teóricos fora da realidade porque os elaboradores não conhecem as facetas de nossa educação e, quando pensam teoricamente, não se dão ao trabalho de verificar, na prática, se suas hipóteses têm consistência.

Ainda devemos repensar, em se tratando do Magistério, a força deste recado para os docentes. Na minha ótica, a presidente, nas entrelinhas, afirmou sobre a necessidade de uma formação permanente e de uma reformulação na linha qualitativa dos cursos de formação de professores. O ponto central, parece-me, está em duas situações importantes: esses cursos deverão aumentar o tempo de estudo em relação ao que o professor lecionará e, em seguida, dar suporte metodológico para que as aulas possam ser bem preparadas, ministradas e compreendidas pelos discentes.

Cabe aos analistas observar o periscópio deste submarino e, em seguida, analisá-lo em toda a sua extensão. (Professor Hamilton Werneck).

(Texto extraído do site: www.plugedu.com.br/Postado por Patricia Salesbrum Elias em 6 fevereiro 2011)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Ensaios poéticos 2

Poema didático

Cego a tatear é o inimigo da leitura!

Porém, quem sabe ler e não o faz

Só mostra que é incapaz

De desenvolver a cultura.

Brasil, rico em literatura,

Vive em paradoxo,

Com um ensino ortodoxo,

Que não ensina a ler,

Que não faz compreender

Que ler é uma aventura.

Gregório, Gonçalves Dias,

Machado, Drummond, Alencar,

Rachel, Quintana, Gullar,

Suassuna, Aranha, Cecília...

Há mais nessa longa família

De artistas do verbo escrever.

E tanto eu quanto você,

Por um país cidadão,

Devemos levar à nação

Estes mestres do saber.

Quem se diz inteligente

Não pode deixar de ler,

Pois leitura é prazer

Que mexe a alma da gente.

E para não ser negligente,

Vamos, então, começar:

Ler é verbo singular

Que mantém viva a mente.

Evaldo Carlos


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ensaios poéticos 1

Ode à vera música

Em tudo Arte das Musas és mais bela.
Sublime som, ó dom, arte divina;
D’alma ferida a doce medicina;
a extasia em ti sempre se revela.

A harmonia de teus sons não atropela
o ritmo que na vida nos ensina
a andar em um compasso que ilumina
o viver longe de toda a mazela

Ó música dos anjos, inefável,
invade o corpo, a alma e a mente.
Tua presença é de paz irrefutável!

Inebria o meu ser eternamente,
no adágio da canção incomparável,
que me faz ser qual um violão plangente.

(Evaldo Carlos de Oliveira Cardoso)

CRÔNICA DE LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO SOBRE O BBB

Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço... A décima primeira (está indo longe!) edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil, encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.

Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema banalização do sexo. Impossível assistir, ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB 11 é a realidade em busca do IBOPE.

Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB 11. Ele prometeu um “zoológico humano divertido”. Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.

Se entendi corretamente as apresentações, são 15 os “animais” do “zoológico”: o judeu tarado, o gay afeminado, a dentista gostosa, o negro com suingue, a nerd tímida, a gostosa com bundão, a “não sou piranha mas não sou santa”, o modelo Mr. Maringá, a lésbica convicta, a DJ intelectual, o carioca marrento, o maquiador drag-queen e a PM que gosta de apanhar (essa é para acabar!!!).

Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.

Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis?

Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados.

Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a isso, todo santo dia.

Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.

Heróis, são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, ONGs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína, Zilda Arns).

Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.

O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. E aí vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!

Veja o que está por de tra$$$$$$$$ do BBB: José Neumani, da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.

Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?

(Poderiam ser feitas mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores!)

Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.

Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar..., ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins..., telefonar para um amigo..., visitar os avós..., pescar..., brincar com as crianças..., namorar... ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construída nossa sociedade.

Luís Fernando Veríssimo